A Vida é uma eterna procura.
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com O Deus-Amor, com o próximo, comigo própria...

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Pintura de Paul Klee

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Contentar-se com o necessário

Por: JOSÉ REBELO, Director da revista World Mission

Artigo de opinião da Revista Além-Mar de Abril de 2010


Relações pessoais, comunhão, meditação, empenho de fé podem fazer muito mais que o dinheiro pela nossa felicidade.

A cultura consumista que se impôs no Ocidente conseguiu espalhar-se pelo planeta inteiro, chegando até aos mais remotos lugares. O resultado desta colonização cultural está à vista, em todo o lado: as pessoas acabam por fazer compras mais para satisfazer necessidades impostas do que necessidades reais. Deixa-nos perplexos, por exemplo, ver que há pessoas que lutam pela sua sobrevivência diária, no meio de grandes dificuldades, para chegar ao fim do mês com o magro salário que ganham, e que, apesar disso, exibem telemóveis sofisticados – por vezes, tendo até mais que um – para depois virmos a saber que tiveram de os ir depositar na penhora em troca por dinheiro para satisfazer necessidades mais imediatas.
Em menos de meio século, houve um aumento de seis vezes mais nos índices de consumo, sob a pressão de um forte condicionamento cultural que influencia o comportamento das pessoas. Líderes de governos e economistas de renome defendem que o consumo é necessário para estimular o crescimento da economia. E a florescente indústria da publicidade seduz continuamente as pessoas, fazendo-lhes acreditar que serão mais felizes se tiverem acesso aos bens e serviços do progresso material.
Mas precisamos realmente de comprar e possuir tantos bens de consumo que a modernidade nos oferece? Tom Hodgkinson escreveu recentemente no Guardian: «De facto, nós sobrevivemos bastante bem, durante milénios, sem computadores e telemóveis. Shakespeare não possuía Blackberry e Aristóteles conseguiu ser o que foi sem um Iphone. O Cristianismo espalhou-se pelo mundo inteiro sem blogues e Internet. Cristo fez o sermão da montanha e deu a conhecer o seu programa sem recorrer a uma apresentação powerpoint. Toda esta nossa tecnologia não é necessária para se ter uma vida feliz.»
Esta linha de pensamento «provocadora» ajuda-nos a focalizar a nossa reflexão naquilo que é essencial na vida e no que queremos fazer do nosso mundo. O consumismo desenfreado é a maior causa da degradação ambiental, para além de ser também causa de degradação moral; as pessoas atiram para trás das costas os valores morais para alimentarem uma sede de ter e de prazer que sacrifica valores e comportamento éticos. Muitos dos ecossistemas da Terra estão em risco de extinção e nós vivemos num planeta com recursos limitados: não podemos continuar a explorá-los desta maneira, pois pomos em risco o futuro, nosso e das gerações vindouras.
A ciência e a economia não possuem a fórmula para salvar o nosso planeta das nossas destrutivas maneiras de viver. A solução está na decisão de vivermos de uma maneira mais sustentável, que implica a opção por vivermos vidas mais simples e modestas, contentes em termos o necessário. Esta opção leva necessariamente a não cooperar com uma cultura do desperdício que promove o consumo, a destruição das coisas só porque têm de ser substituídas por outras novas.
A compulsão para comprar e exibir os bens de consumo conotados com moda e estatuto social – carros de luxo, roupas de marca, gadgets electrónicos – é sintoma de baixa auto-estima e dependência. O desafio é combater essa compulsão promovendo uma visão da vida, uma espiritualidade, que abrace os mais genuínos valores da simplicidade, da solidariedade e da comunhão com a Natureza e os demais seres humanos. O dinheiro e os bens de consumo que ele pode comprar podem contribuir para o nosso bem-estar mas não nos asseguram a felicidade. Sobriedade, domínio e dom de si, verdade, amor, relações pessoais autênticas, comunhão, meditação, empenho de fé podem fazer muito mais pela nossa felicidade.

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